A manicure Gi Camargo já fez as unhas de estrelas como Gisele Bündchen, Ivete Sangalo, Maria Rita e Fernanda Montenegro. É dona de um acervo de mais de 1.700 esmaltes – com cerca de 70 diferentes marcas, todas importadas –, mas, as próprias unhas são mantidas sem esmalte na maior parte do tempo. Isso porque ela prefere usar cada um dos dez dedos para demonstrar as cores para as clientes mais indecisas.
Gi estudou somente até o segundo grau, e diz, com bom humor, que é a “analfabeta da família no bom sentido”, já que conseguiu, com dinheiro que ganhou fazendo unhas, comprar o próprio apartamento, o carro, colocar a filha em uma boa escola e, possui o próprio salão, o Gi Camargo Nail Bar, em um endereço badalado da capital paulista.
No salão, um tapete rosa-choque demarca o espaço onde ficam as manicures – atualmente, ela tem três funcionários, além da própria, que faz questão de meter a mão na massa e atender uma média de 13 clientes por dia. Entre diversos vidrinhos de Chanel, Dior e Dolce & Gabbana, ela concedeu uma entrevista exclusiva ao Terra, na qual contou como chegou ao patamar atual – de empregada à dona do próprio pedaço.
Terra: Como você ingressou na carreira de manicure?
Gi Camargo: Eu comecei com cabelo. Fiz o curso de manicure porque percebi que a manicure recebia por semana. E aí comecei a ver que ganhava muito mais dinheiro fazendo unha. E eu comecei a gostar muito disso. Mas gostar de um jeito que hoje, quando folheio uma revista, a primeira coisa que eu olho é a unha da modelo. É uma coisa que não consigo controlar, é mais forte que eu. Todo mundo que viajava, eu pedia para trazer esmalte. Tinha uma época que eu quase não recebia porque a cliente trazia para mim um esmalte e eu pagava com trabalho. Hoje não, tenho fornecedor, é diferente.
Terra: Você começou em salão pequeno?
G.C.: Na verdade eu fui meio “rabuda”, comecei em um salão lá nas Perdizes, que era grande e atendia a Regina Duarte, já tinha uns famosos. Era um pessoal nível A, não era um lugar baratinho. Aí eu saí de lá para ir para o MG Hair [salão do hairstylist das famosas, Marco Antônio di Biaggi]. Aí foi que a coisa deslanchou.
Terra: foi lá que você fez a clientela de famosas?
G.C.: Na verdade, não. Quando saí do MG, fiquei alguns meses no Studio W no Iguatemi e comecei a fazer unha da Amalia Spinardi [estilista], que me apresentou a Gisele [Bündchen] e aí comecei a fazer esses trabalhos. Na época da C&A, 90% dos trabalhos era eu que ia lá fazer a unha. A Gisele era minha cliente mesmo. Conheci a mãe, a irmã, por isso fiquei muito triste [com a matéria da Veja]. Talvez se fosse outra modelo, não teria ficado tão triste, mas a Gisele sabe quem sou eu. Eu fiz capa de Vogue 15 anos com ela, peguei o filho dela no colo, ela, quando me viu, deu um berro de felicidade, aí o cara me escreve uma coisa dessas? Foi muito chato. Eles falaram que a Gisele não me dava caixinha. Como é que ela poderia me dar caixinha, se normalmente quem paga é o dono do produto? Ela nem sabe quanto estou ganhando. Ela nunca pegou o dinheiro na mão e me deu, ela nunca chorou valores, ela nem sabia quanto eu estava ganhando. Cheguei a mandar um e-mail para ela. Ela me conhece, eu tenho certeza que ela sabe que eu jamais falaria isso.
Terra: Como nasceu o título “manicure das famosas”?
G.C.: Eu acho que eu ganhei esse título porque sempre fui muito discreta, e as pessoas sempre acreditaram e confiaram em mim. Quando a Gisele me mostrou fotos dela da maternidade, coisa que ninguém viu e eu vi, eu não falei para ninguém. O nenê da Isabeli Fontana, que vi brincando um dia no quintal da Vogue, eu nunca contei, não tem necessidade. Sempre fui muito discreta.
Terra: O que você acha que foram seus diferenciais, além da discrição, para ser chamada para tantos trabalhos?
G.C.: Gosto muito, muito do que eu faço. Eu nunca faço uma unha sem vontade. Olha minha unha: nunca está pintada. Cada dia eu estou com um dedo de cada cor porque eu fico experimentando para a cliente. Eu não fico de mau humor porque ela borrou, ou porque ela quer experimentar dois esmaltes. Eu faço com o maior amor do mundo. Estou sempre buscando novidades, estou sempre pesquisando o que tem de novo, sempre sabendo qual é o próximo lançamento.
Terra: Você imaginava que ia conseguir montar seu próprio salão?
G.C.: Não, teve momentos de desespero. Teve momentos da obra que o gasto foi muito maior do que eu esperava, então foi muito difícil. Sempre que estou desesperada, eu acho que, se eu for embora para Barretos, que é minha terra, vou me livrar dos problemas. Mas aí ficou pronto, eu estou super feliz.
Terra: Você estudou até que série?
G.C: Fiz o segundo grau, estudei pouco. E na minha casa todo mundo é formado em alguma coisa. Eu falo que sou a analfabeta da família, mas analfabeta no bom sentido porque eu também não virei uma manicure qualquer, consegui fazer carreira, ganhar dinheiro, comprar minha casa, meu carro, botar minha filha em um bom colégio, tudo fazendo unha. Então dá para fazer, sim, dentro da minha simplicidade.
Terra: Quanto você investiu aqui?
G.C.: Só de esmalte, foram uns R$ 80 mil, agora a obra ainda não parei para pensar. Se você for fazer as contas, um esmalte desse custa, cada um, mais de US$ 25 dólares [aponta para longas fileiras de vidrinhos da Chanel], então se você for somar… E a gente tem mais de 70 marcas.
Terra: Quanto tempo você acha que vai demorar para recuperar o que investiu aqui?
G.C.: Não parei para pensar, acho que vai demorar muito. Mas tenho certeza que aqui é um ponto bom, eu tenho certeza que fiz um bom negócio. As minhas clientes todas vieram.
Terra: Quais esmaltes mais diferentes que você tem?
G.C.: Tem os infantis que são à base de água, cada marca tem sua acetona própria [aponta para uma casinha cheia de esmaltes para as crianças]. Eu fiz consultoria para uma marca de esmaltes aqui no Brasil, então eu entendo um pouquinho mais da química. Das grandes, tenho todos, M.A.C., Nars, Dolce&Gabanna, Dior, tem muita marca. Tem Deborah Lippmann que eu amo, que é uma manicure que virou empresária. Para mim é um dos melhores esmaltes, porque como ela é manicure, ela entende. Tem um aqui que é 100% orgânico, bom para quem é alérgico.
Terra: Você não trabalha com marca nacional?
G.C.: Não, não tenho nada nacional. Mas de repente, quem sabe?
Terra: Você acha que se as clientes olharem todos estes esmaltes importados, vão querer os nacionais?
G.C.: Você sabe que tem cliente que vem aqui e traz o “Renda” [um dos clássicos esmaltes da nacional Risqué] dela? Eu acho que nosso esmalte nacional está muito bom também. Eu, na verdade, sempre optei por ter um importado só para ter o diferencial mesmo, mas não que seja ruim. Por exemplo, um esmalte desse aqui custa mais de R$ 90 [aponta para um Chanel]. A pessoa vem aqui faz a unha, por R$ 42. Eu acho que vale a pena. Você vem, realiza um sonho de usar um Chanel por R$ 42.
Terra: Tem diferença de preço dependendo do esmalte?
G.C.: Não, só o Minks [adesivo importado] que é mais caro e o esmalte em gel também. Mas também a durabilidade dele é de até 25 dias, sem descascar, com brilho, fica incrível. Custa R$ 200. A mão com qualquer outro esmalte é R$ 42, e o pé é R$ 55.
Terra: Você trabalha com o conceito de Nail Art, o que você anda fazendo de diferente por aqui?
G.C.: Eu acabei de lançar o borrado de glitter, que você faz a unha normal e coloca umas gotinhas na raíz. A inglesinha também, fui eu e a Adriana Barra que criamos, se tivéssemos patenteado… [risos]
Terra: Quais são as que mais saem?
G.C.: Faço muito meia lua clássica, muito meia lua com fundo colorido e filha única.
Terra: Você acha que a brasileira é muito exigente com a unha?
G.C.: Eu acho. E eu também sou.
Terra: Quando está no papel de cliente, o que você exige? O que é uma unha bem feita para você?
G.C.: Geralmente quando estou fazendo a unha no cabeleireiro, eu não exijo nada, fico quieta e deixo ela fazer. Nem falo que eu faço, até porque a pessoa fica meio insegura. Mas o mais importante em uma unha é você tirar uma boa cutícula, não cavar muito. E uma unha bem limpa. Eu acho que quando você limpa bem o esmalte, é uma outra coisa.
Terra: Agora que você já tem o seu salão, o que você pensa para o futuro?
G.C.: Ah, eu quero ver isso aqui bombando, se Deus quiser. E as pessoas acreditando muito mais em mim.
Terra: Você pretende trabalhar até quando?
G.C.: Até ficar velhinha, vai chegar uma hora que eu vou estar usando óculos, eu não vou estar enxergando e a cliente também não, então ela vai achar que está ótimo, e eu vou achar que estou arrasando [risos]. Eu nunca vou parar.
Terra: Você convive num meio em que as pessoas têm dinheiro. No seu dia a dia você é uma pessoa simples ou passou a valorizar mais as marcas e coisas caras por este convívio?
G.C.: Olha, minha amiga, sou super simples. Ensino muito isso para minha filha. Às vezes as pessoas acham que eu não sei falar 100% o português correto, talvez eu não saiba falar inglês, mas eu não quero mudar. Eu acho que na vida a gente tem que crescer, mas eu não quero ser melhor que ninguém, e nem quero ter a bolsa da minha cliente. Fico feliz por elas, mas não tenho isso. Não tenho nenhum pingo de inveja, nem ciúmes, nem vontade. Eu tenho meu pé no chão. Não quero viajar para ficar comprando bolsa, quero me divertir, ter experiência.
Terra: Comprar uns esmaltes, talvez?
G.C.: Também! [risos]
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Fonte: Terra
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MAtéria muito boa!!! Super recomendo!