A falta de informação entre os profissionais do segmento da beleza e estética pode favorecer a transmissão de doenças como hepatite B e C. Essa é uma conclusão central da tese Conhecimento e adesão às medidas de biossegurança entre manicures e pedicures, defendida recentemente pela enfermeira Juliana Ladeira Garbaccio junto ao Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Escola de Enfermagem da UFMG.
Por meio da análise das recomendações de biossegurança do segmento de estética e da produção científica mundial em relação a esse campo de estudo, Juliana fundamentou seu trabalho nas evidências de ocorrência das transmissões microbianas em salões de beleza que, segundo ela, ocorrem devido ao despreparo dos profissionais no manuseio e processamento dos instrumentos utilizados, como alicate, espátulas e outros materiais.
Para o trabalho de campo, a pesquisadora usou amostra quantitativa de 235 salões sorteados entre os 600 que possuíam cadastros de alvará de funcionamento fornecido pela Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) em 2010. “Os profissionais dos salões foram convidados a responderem um questionário sobre o conhecimento deles em relação a riscos da atividade para a saúde própria e do cliente, além do convite para a realização de exames sorológicos para hepatites B e C das manicures e pedicures”, conta a pesquisadora.
A última etapa do trabalho contou com a avalização do funcionamento das autoclaves utilizadas para esterilização de objetos. Como resultado, Ladeira constatou desconhecimento dos profissionais sobre biossegurança em relação ao descarte de materiais perfurocortantes, condutas após acidentes com material biológico, mecanismos de transmissão microbiana e sobre o reprocessamento de materiais.
De acordo com a pesquisadora, as manicures e pedicures entrevistadas apresentaram melhor resultado para o conhecimento das medidas de biossegurança em comparação com a sua adesão, ou seja, alguns estabelecimentos até possuíam a preocupação com a esterilização, mas não tomavam as medidas necessárias.
“A adesão à higienização das mãos entre o atendimento aos clientes, por exemplo, foi considerada frágil, apesar de as entrevistadas terem reconhecido a importância do procedimento. Também houve baixa adesão com relação aos equipamentos de proteção individual (EPI) e uniforme, como jalecos, aventais e uso de sapatos fechados, além do descarte de material perfurocortante em local apropriado”, enfatiza.
Além disso, a coleta de dados demonstrou que a conduta das profissionais após os acidentes com material perfurocortante (sendo o alicate de cutícula o principal instrumento causador de lesões) foi na maior parte incorreta, favorecendo a transmissão de micro-organismos potencialmente encontrados no sangue, em especial os vírus das hepatites B, C e o HIV.
Pesquisa amplia visibilidade de setor de beleza
Dos dados coletados durante a pesquisa, apenas 38,3% das manicures e pedicures relataram cobertura vacinal completa contra hepatite B. Apenas 35,3% dos 235 salões visitados utilizam a autoclave e aproximadamente 70% das entrevistadas a citou como método recomendado para a esterilização dos seus artigos.
“Os principais fatores citados pelas profissionais para não adesão às medidas de biossegurança, aos equipamentos de proteção individual e à proteção vacinal contra hepatite B e tétano foram a falta de informação, o incômodo, o desconforto e a alergia no uso de EPI”, explica a enfermeira.
Para ela, o estudo amplia outras possibilidades de intervenções junto ao segmento da beleza e estética, uma vez que torna perceptível a importância da categoria. “O segmento da beleza e estética é bastante carente de trabalhos, pesquisas e práticas educativas que, em parceria com outras entidades de saúde, podem propor ações no sentido de capacitar e sensibilizar os profissionais da área para a importância da biossegurança”, concluiu Juliana.
Ela também aponta a necessidade da regulamentação da profissão, que foi reconhecida apenas em janeiro de 2012, e uma possível exigência de formação ou capacitação mínima em escolas técnicas reconhecidas.
Fonte: CBN